
Algumas
reflexões sobre células-tronco.
Ao
começar a refletir sobre estes temas tão polêmicos,
gostaria de afirmar que a Igreja defende a pesquisa científica,
sobretudo quando se pensa que essa pesquisa pode nos levar
à cura das doenças que afligem a humanidade.
O
que a Igreja quer frisar é que a ciência também
tem de respeitar os direitos do homem. Não se trata,
aqui, de defender a vida a partir de argumentos de fé.
Trata-se de usar a razão para defender o valor absoluto
de cada pessoa humana.
Quando
a pesquisa científica diz respeito à vida
humana, os limites devem ser definidos de maneira muito
clara, para evitar que se manipule a vida de um ser humano
desprotegido em favor de outro ser humano mais favorecido.
Não
devemos ter medo de pôr limites à ciência.
Devemos ter medo, sim, de uma ciência que, sem reconhecer
limites éticos, acaba pondo em risco a vida humana
com os desequilíbrios que provoca no sistema ecológico,
nos relacionamentos entre ricos e pobres, e com sua participação
na produção de armas.
Voltando
ao problema da pesquisa com células-tronco, é
evidente que essa pesquisa representa uma grande possibilidade
para o desenvolvimento da ciência médica. Uma
coisa que não se comenta é que todos os tecidos
do corpo humano produzem células-tronco. Os especialistas
em medicina celular sabem que pesquisas com células-tronco
de tecidos adultos já deram resultados muito melhores,
porque menos sujeitos a produzirem tumores.
Seja
como for, por que a Igreja é contrária à
utilização de células embrionárias?
Porque o embrião é um ser humano em sentido
pleno. Não se pode usar a vida de um homem para tratar
a vida de um outro. Qualquer ser humano, rico ou pobre,
jovem ou velho, de qualquer raça, tem um valor absoluto.
O
problema, então, é reconhecer que o embrião
já é um ser humano.Quem define quando é
que a vida começa? Pela própria ciência
se pode chegar a uma conclusão clara: quando o espermatozóide
se une ao óvulo, nasce o embrião em sua primeira
fase. O embrião, nesse momento, já está
completo. Contém em si todas as informações
necessárias ao novo ser humano. O que falta é
apenas o tempo e a alimentação da vida para
que chegue a seu pleno desenvolvimento.
Mais
uma vez, quero frisar que não estou usando argumentos
"religiosos" ou de fé para chegar a essa
conclusão: é só olhar para o estágio
de desenvolvimento da própria pesquisa científica.
Poderíamos nos perguntar por que muitos cientistas
reconhecem esse fato, ao passo que outros tantos não
o reconhecem.
O
ponto em questão é aquele pelo qual iniciei
esta minha reflexão: deve a ciência respeitar
limites éticos ou o que se deve é defender
seu progresso a qualquer custo? Como estabelecido na Declaração
de Helsinque, é a ciência que está em
função do ser humano, de cada homem, de cada
mulher e não o ser humano que está em função
da Ciência.
A
mídia tem explorado os testemunhos de portadores
de doenças crônicas para as quais ainda não
existem tratamentos que, justa e honestamente, buscam a
cura para seus males. Esses testemunhos muitas vezes visam
sensibilizar a opinião pública no sentido
de se obter a rápida aprovação de leis
que autorizem os cientistas a utilizarem embriões
humanos como se isso pudesse "apressar" os resultados
desses trabalhos de pesquisa, o que não é
verdade porque as pesquisas com células-tronco retiradas
de outros tecidos humanos (placenta, medula, entre outros)
continuam se desenvolvendo a passos largos, no sentido de
se alcançar os benefícios para a saúde
de todos, o que é também o anseio da Igreja.
O
que fazer com as pessoas doentes que poderiam esperar ser
curadas a partir do uso da vida de embriões humanos?
É preciso cuidar delas. Tenho certeza de que ninguém
quer salvar sua vida à custa da vida de outro homem
inocente.
São
Paulo 01.07.04
Pe. Vando Valentini
Coordenador do Núcleo Fé e Cultura da
PUC/SP
